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sábado, 13 de abril de 2013

☑ SILÊNCIO, de Shusaku Endo

A palavra calada
FICHA
Autor: Shusaku Endo
Nacionalidade: Japonesa
Ano da edição original em japonês: 1966
Ano da tradução portuguesa (da versão Inglesa): 2010
Editora: Dom Quixote
Género: Drama
Páginas: 272
FNAC 

SINOPSE (FNAC)


Uma fascinante introspecção que questiona o silêncio de Deus perante a agonia dos que nele crêem.

Silêncio, cuja acção decorre no século XVII, conta-nos a história de um missionário português envolvido na aventura espiritual da conversão dos povos orientais, o qual acaba por apostatar, após ter sido sujeito às mais abomináveis pressões das autoridades japonesas, para evitar que um grupo de fiéis seja por ordem delas torturado até à morte. Antes de chegar ao Japão, a sua viagem leva-o a Goa, depois a Macau e, finalmente, a Nagasáqui e Edo, em etapas que pouco a pouco o transportam a esse Oriente hostil, onde no entanto já se contam alguns milhares de convertidos à fé católica.
Aí descobre, na luta contra as pessoas e o ambiente adversos, a verdadeira fé, liberta de todo o aparato externo, eclesiástico ou mundano. E aí acaba por experimentar a derradeira solidão, que é o destino daqueles que quebram a comunhão com o que mais profundamente marca a sua identidade.
"Fica-se quase doente ao ler Silêncio, mas rendemos-nos à verdade e força dos estados de alma e das confissões das personagens. As descrições da natureza são magníficas: as estações do ano, as árvores, as cigarras, o concerto dos pequenos animais da floresta."
Urbano Tavares Rodrigues , in Leitura Gulbenkian, 2010

 
 APRECIAÇÃO
Um livro fascinante, a vários níveis.
Em primeiro lugar, porque é uma narrativa introspectiva de um grande escritor japonês, católico, num país com menos de 1% de cristãos.
Como não podia deixar de ser, este livro aborda vários temas ligados ao Cristianismo, no Japão do século XVII, durante os tempos de perseguição e tentativa de eliminação desta religião pelas autoridades japonesas.
Este é um livro sobre o silêncio de Deus, perante o sofrimento daqueles que o professam, quando são perseguidos e torturados até à morte, forçados a renegar, da forma mais abjecta as suas convicções mais profundas e a substituí-las pela religião oficial, o Budismo. Reflecte também a resistência, no silêncio e na clandestinidade, de uma Igreja, escondida de novo nas catacumbas.
A personagem principal do livro, é um padre jesuíta Português, que parte para o Japão, na tentativa de descobrir o paradeiro e as razões que levaram o seu mestre, o reputado e experiente Padre Cristovão Ferreira, a apostatar, após 20 anos de missão.
O que encontra no Japão, é o terrível martírio   dos cristãos, às mãos de um governo maquiavélico e implacável,  acabando ele por assumir, nessa comunhão com o sofrimento dos crentes,  o seu Gólgota pessoal e no paroxismo da angústia e sofrimento,  questiona o silêncio de Deus, situação que no limite, constitui o verdadeiro teste à sua fé.
O choque de culturas é uma vertente interessante do livro, eloquentemente descrito pelo padre apóstata Ferreira, que descreve o Japão do século XVII, como "um pântano onde apodrecem as raízes da fé Cristã por eles plantadas", um cristianismo sem seiva ou substância, decalcado meramente dos rituais budistas. Ou ainda das palavras do maquiavélico inquiridor, o cristianismo não passava da "mulher feia, pegajosa e manipulativa", de quem o marido(Japão) se procurava livrar.
Mas o livro vai mais além da curiosidade meramente cultural e é lido como um relato impressionante do sofrimento e da solidão daqueles que são forçados a renegar as suas mais profundas convicções, no fundo violando a sua identidade. 
Este livro evoca, em muitos aspetos, Graham Greene, outro incontornável escritor católico, em " O poder e a glória", de 1940.
Um livro, que se lê de um só fôlego, mas como   diz Urbano Tavares Rodrigues, que cito também para dissipar eventuais pruridos e preconceitos anti-católicos, ele que não é nada dessas bandas, "fica-se quase doente ao ler Silêncio".
  
Do Autor 


Apontado como um dos mais refinados escritores do século XX, Shusaku Endo (1923-1996) escreveu a partir da perspectiva fora do comum de ser japonês e católico. Nascido em Tóquio, Endo foi baptizado aos 12 anos, numa altura em que os cristãos representavam menos de 1% da população japonesa. 
Formou-se em literatura francesa, pela Universidade de Keio e estudou durante algum tempo em Lyon como bolseiro do governo japonês. 
O seu estilo de escrita, tem sido sucessivamente comparado ao de Graham Greene, que alíás o considerava um dos maiores escritores do século XX. 
De entre as suas obras mais representativas, além de Silêncio, destacam-se também O Samurai e Rio Profundo
Shusaku Endo foi galardoado com os mais importantes prémios literários do seu país, e por diversas vezes nomeado para o prémio Nobel da Literatura. 
Silêncio está para ser adaptado ao cinema por Martin Scorsese, em parceria com o argumentista, Jay Cocks (Gangs de Nova Iorque), um projecto que há mais de uma década procura concretizar.  
Entre nós, João Mário Grilo, usou-o no argumento do seu filme de 1996 "Os olhos da Ásia", um filme que já merecia uma edição em DVD. 
Enquanto esperamos por Scorsese, ( talvez eternamente), poderemos apreciar o filme "Chinmoku (Silence)" do japonês, Masahiro Shinoda, de 1971.
 

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